The Handmaid's tale é uma série do serviço de streaming Hulu (uma concorrente americana da Netflix, ainda inédito no Brasil) e foi inspirada no livro de mesmo nome (que em português é conhecido como "O conto da aia"), escrito pela escritora canadense Margaret Atwood. A história se passa em um futuro aonde a humanidade sofre uma crise de infertilidade, e a solução que os Estados Unidos acharam foi transformar o país em um sociedade ultraconservadora chamada Gilead, aonde as mulheres não tem nenhum tipo de direito e as poucas que ainda são férteis são transformadas em aias, uma espécie de escrava que tem como tarefa principal gerar filhos para o comandante para o qual serve.
É tanta coisa para elogiar nessa série que é até difícil de decidir por onde começar, mas vou falar primeiramente do roteiro. Claro que não se pode dar todo o crédito aos roteiristas, porque a base da história já estava pronta, mas com certeza eles merecem ser reconhecidos pela adaptação muito bem feita, o ritmo da história é envolvente e com diálogos ótimos.
O ponto técnico mais impressionante desse programa é a fotografia, com a luz sempre nos ângulos e quantidades certas para formar lindas imagens e passar a mensagem certa, mesmo em silêncio. As cenas abertas também são bem impressionantes, principalmente para mostrar como organização e regras são importantes para essa sociedade.
Outra coisa que merece todos os elogios possíveis é a trilha sonora, sempre com músicas ótimas, no momento perfeito. Tocar You Don't Own Me no final do primeiro episódio, aonde a gente acabou de descobrir aquele lugar aonde as aias são consideradas como uma propriedade é brilhante, porque é exatamente o que cada uma delas queria gritar, mas não pode.
Obviamente não adianta os aspectos técnicos serem perfeitos, se não tivermos um bom elenco, até porque quem sustenta a atenção do telespectador são os personagens, e nesse caso temos vários nomes conhecidos como Alexis Bledel (Rory de Gilmore Girls), Samira Wiley (Poussey Washington em Orange Is the New Black), Joseph Fiennes (Shakespeare de Shakespeare apaixonado) e Yvonne Strzechowski (Sarah Walker na série Chuck ou Hannah McKay em Dexter), mas o maior destaque vai para Elisabeth Moss, mais conhecida por ter dado vida a Peggy Olson, da série Mad Men, mas aqui interpreta a protagonista Offred. Elisabeth transmite brilhantemente toda a dor e angústia que as aias sentem, principalmente nas cenas em que você percebe que ela está prestes a estourar, mas tem que manter a pose e cumprir as suas obrigações. Há pessoas que já estão até apostando que a atriz vai ser figurinha fácil na próxima temporada de premiações.
Para ser justa todo o elenco está ótimo, principalmente na comunicação não verbal, porque como é uma sociedade muito reprimida, muito dos sentimentos tem que ser passados só com um olhar, ou postura física, isso é difícil, mas é feito com maestria.
A série é ótima e merece ser vista, mas não se engane, não vai ser algo fácil e relaxante de ser assistido, principalmente para as mulheres, porque como eu já falei, nesse mundo elas não tem nenhum direito, nem ler lhes é permitido, mas o que é realmente perturbador é que no primeiro momento você acha que essa narrativa é fictícia e longe da realidade, mas no segundo seguinte começa a ver conexões com a vida real, na verdade consegue até lembrar de alguém que pensa de um modo parecido com o governo de Gilead. Sem contar que a relativa facilidade que isso pode acontecer é assustadora, só é preciso ter as pessoas erradas no poder, apertando alguns botões e aprovando algumas leis esdrúxulas e pronto, toda a sua voz e liberdade foi anulada.
Essa mensagem é algo extremamente atual, já que o político que mais ganha apoiadores no Brasil e o homem mais poderoso do mundo, pelo menos politicamente falando, são assumidamente conservadores, machistas e preconceituosos, adjetivos que também descrevem perfeitamente as figuras principais dessa nova sociedade.
Pela soma dessa importância social, com o elenco e elementos técnicos impressionantes, The handmaid's tale é um dos maiores destaques de 2017.
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